terça-feira, 30 de agosto de 2011

A colonização de ontem e de hoje

Por: Fabio da Silva Barbosa

Enquanto estou lendo “AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA” (Livro de Eduardo Galeano que trata da colonização da América Latina e de como as potências da época enriqueceram através do saque das riquezas alheias) comparo a colonização de ontem com a de hoje. Mesmo com toda distância temporal, muitos povos ainda são submetidos a esse processo. Por terem sofrido contínua lavagem cerebral, são colocados na posição de colonizados pacíficos. Tudo parece estar dentro do normal e caminhando pelo único caminho possível. Mas existem muitos caminhos e possibilidades que não recebem a devida atenção. Isso não se dá devido a falta de inteligência ou a fraqueza, mas por causa de toda uma estrutura que nos faz acreditar que a realidade em que vivemos é a única possível.
Além dos colonizadores externos e seus bandeirantes, ainda temos de suportar os ataques dos colonizadores internos. Este tipo de colonizador se divide em grupos que não medem esforços para fixar suas bandeiras e catequisar aos que, segundo a visão deles, estão precisando de orientação e esclarecimento. Um dos muitos exemplos que poderiam ser citados é a forma com que partidos políticos ou pretensos grupos revolucionários chegam a uma comunidade carente ou em um movimento social espontâneo (criado pela própria população, sem depender de doutrinas ou verdades estabelecidas) e já vão catequisando para arrebanhar.
Focando nos partidos políticos (hoje existem alguns querendo ocupar o lugar deixado vago pelo PT em sindicatos, associações de moradores e movimentos sociais), podemos comparar esse tipo de colonização interna com a antiga da seguinte forma: O político partidário X chega na comunidade carente y, encontra os moradores tradicionais desta localidade, trava contato, fixa sua bandeira partidária e troca seus espelhos e quinquilharias (atualmente representadas por churrascos ou pequenas trocas de favores) pelo bem da terra (antigamente: madeira e metais preciosos – hoje: voto). A mão de obra utilizada pelos antigos colonizadores em suas novas terras era o trabalho escravo, atualmente usam cabos eleitorais que trabalham em troca de promessas ou de pequenos favores (entre eles a aquisição de uma mixaria que não garante nenhuma mudança real em sua vida).
Focando agora no outro exemplo dado (os pretensos revolucionários), contarei uma história que pude assistir algumas vezes em locais e datas diferentes: Em uma comunidade extremamente pobre, um grupo que dizia estar ajudando essa comunidade de forma desinteressada impunha sempre uma série de costumes que não faziam parte do cotidiano dos moradores. Entre esses costumes havia o momento de falar sobre suas ideologias salvadoras durante encontros e festividades locais. Enquanto os europeístas falavam sobre sua visão científica da sociedade, entre a infestação de baratas e o roncar de estômago das crianças que lembravam a todo momento a realidade daquela gente, os moradores iam saindo de fininho ou se fechavam em seus próprios pensamentos (haviam muitos problemas para serem pensados enquanto aqueles garotos bem alimentados falavam em uma língua empolada sobre teorias antigas e cansativas). O evento só começava de verdade depois que essa galera ia embora. Aí os moradores iam chegando desconfiados, se certificando que aquela gente chata já tinha sumido.
Certa vez, perguntei a uma senhora, que aparecia sempre depois que esses caras iam embora, onde ela estava no momento da confraternização. Ela disse que tinha um pessoal de igreja falando mais cedo e, como não gostava de igreja, ela preferiu esperar eles irem embora antes de se aproximar. O pessoal de igreja, na verdade, era um grupo revolucionário que, assim como a antiga igreja, dizia estar salvando a alma daquela gente pura. Aquela senhora nem fazia ideia de como sua análise da situação fora perfeita.
Muitos outros exemplos de colonização interna poderiam ser dados, mas citarei apenas mais um: Certa vez estava comentando sobre a mania dos acadêmicos ficarem transformando tudo em teoria, se afastando assim do mundo real e pragmático, ficando restritos ao pequeno grupo da academia. Falei sobre os diversos movimentos sociais e culturais que surgiam de forma espontânea e sem nenhuma necessidade de guias ou condutores de massas. A pessoa com quem eu conversava questionou se eu achava que um estudioso não poderia pesquisar sobre um movimento periférico. Respondi que ele poderia pesquisar a vontade, mas que ele nunca poderia achar que sabe mais daquela cultura que as pessoas que deram forma e conteúdo a ela (ou seja, não poderia se apropriar do que não lhe pertence). Nem preciso dizer que essa pessoa, untada de teorias limitadoras, não conseguiu entender nada do que eu disse. O grande problema da academia é a atitude colonizadora. Ela chega, põe sua bandeira (que deve ser adorada por todos como o certo) e começa o trabalho de catequização.
E por aí vai...

2 comentários:

Anônimo disse...

E por aí vai

Al Mellos disse...

..e parece nunca mais ter fim.