sexta-feira, 31 de julho de 2009

Embora nada do que eu diga se encaixe



Próxima do inverno, és bela
Chegado o verão, outono, primavera
És bela, estatela, quebradiça

Seus cacos tilintam ao cair no chão
Uma harmonia soa e quebra o silêncio mudo

Cai de leve uma chuva
Sem raios, sem granitos
Só chuva, só água
O silêncio paira

Leve, uma bolha de sabão
Flutua entre as sombras
Um morcego, grita
Ao desvio de paredes

Num pedaço de vidro
Uma gotinha pinga
Não sei si é água
Mas marca um tempo

Um tempo insistente
Que atrai e distrai

O som de um violino dança
Enquanto eu vejo seus lábios cor de rosa
És bela( uma imagem) da espessura
De seus fios de cabelo torneando o vento

Vejo que sou o solo, os cacos caem do céu

Vindo direto ao chão
Avoam-me nos olhos
Furam as pupilas
Cortam-me as artérias

Sim, flutuam pelo corpo todo

Na noite, somos água e terra
Na manhã apenas misturados
Em forma de lama

Tenho em mim os seus estilhaços
E você tem em si
Os meus torrões de terra

Embora nada do que eu diga
Se encaixe
És bela, estatela, quebradiça.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Tentativa




Num dia triste, a tristeza foi embora
junto a ela a felicidade
eu fiquei assim, sem expressão
Na tentativa de uma despedida
Só não sei como pude perder o que já não tinha
Restou a mim o tamanho
saudade, exagero
e quando eu dizia ser uma árvore
ainda sim a tristeza era uma chuva
Lembrei-me que até pra uma morte
existe uma vida
Ainda sim a despedida, intacta
Voltou a mim uma expressão
Nenhuma que eu queria
Junto a ela a tristeza voltou quase que muda
Com os meus olhos de sagui, sinto pelo que senti...
Sem nada eu é que fui embora e não tinha e nem precisava
Do nada que a tristeza me levou,
Só da tentativa de sua despedida
E em algum momento, descobri que não tenho a tristeza em mim
Ela é que me tem nela
Me deixa contido
E me faz ver o que convém.

Minha primeira conhecida



Que diabos tem a lua?!
Nenhum, ela apenas é cheia
Eu não estou mal,
também não estou bem
Antes
O ar que eu respirava me coçava
De bobo eu ria...parecendo ter achado ouro de tolo.
Ainda não tenho medo―dizia. Assim a mim mesmo.
Fazia uma graça que nem eu me lembro, e com certeza se perdeu
a um misero cisco.
Pra todo lugar que eu ia, sempre havia uma direção...
No chão eu tropeçava feito a primeira roda quadrada
E apesar disso, girava...
Rodava...
Num banco de ônibus, eu parecia estar em um avião,
voando a 200 mil pés, flutuando sobre a água das nuvens.
E embora tivesse um cheiro podre, eu sentia um perfume
com a intensidade de uma dama da noite.
(respira, suspira....transpira...o cheiro não lhe sai do nariz)
Eu me estagnei antes que viesse a embrulhar o estômago.
No vago do meu quintal, olhei para lua, ela , sólida como nunca
Olhei-a― pensando―pode ter alguém a julgá-la cheia?
E fiquei achando ter falado algo puro.
Vejo o que sou. Só um pobre empedernido.

Passos de inverno



Pelas calçadas rústicas, ando
Ao tentar pegá-la
a borboleta se escapa
E me distrai do meu curto e pequeno assunto.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ultrapassado, sem formas



Sou antiquado
Diabos que não me esquenta!
Minha única boa blusa sempre fora desprovida de carapuça
Com ela, estou preparando essa guerra (guerra de travesseiros)
Só não traga reféns―prisioneiros—, fuzis!
Estou desmunido, esmurecido. Murcho.
Pudera, peguei corrente de ar frio
Ah! Conversa. Eu vejo o noviço camaleão que sou
e fico vesgo, ao olhar para os dois lados de uma mesma moeda
Sufocado suspiro...
Si não fosse pelo vento
não saberia que Santi, é Rafael (um mestre renascentista)
e que Galileu Galilei, deixara, escrevendo em papiros,
desenhadas letras a bico-de-pena. Vejo que antiquado que sou.
Não por sentir frio ou tomar numa manhã, em meio ao leite,
derretidas bolachas. Só por culpar uma blusa.
Sim. Sem uso.
Sem carapuça.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Agulha do palheiro



Eu perco, perco
minhas palavras destrinchadas
no meu coração rasgado
Ainda outro dia
acho uma noite,
uma noite pequena demais
Ficção, fixação
guardo-a no meu bolso.
Sem noite, a lua fica.
Ainda mais
Eu a perco
Fico louco
Procuro tão pouco,
que a minha vontade
se esvaira
Perco a paciência,
daqui até ali
Encontro a distância
pequenina, nua
recém-nascida
deixo então,
que ela siga a sua vida!
A minha eu já tenho,
é inútil falar disso
acho o que eu acho
perco o que eu perco,
ao encontro,
é só um desdeixo o que eu deixo
Sou especialista, especialista em perder coisas
Não perco meu tempo,
Perco a minha vida,
tentando fazer as mãos mais lentas que os olhos.

domingo, 12 de julho de 2009

O silêncio que me fascina



Eu sou jovem, um jovem que nasceu em 1988. Por enquanto, enquanto não estou velho, tenho uma memória de repulsa.
Ainda me vejo no meio da rua juntando selos de cigarro como si fossem dinheiro, e em meio a multidão, do nada...apareceu...
Daiane, com seus cabelos louros meio cacheados e com seus olhos azuis feéricos, o seu silêncio amanhecido me fascinava, e o brilho dos seus olhos era difícil de se ver, pois seu semblante permanecia quase sempre abaixado, olhando para os nossos pés, ali, lado a lado. Com nossas mãos seguras, eu sentia o pulsar do seu coração na ponta dos dedos, era tudo muito siames.
Vinha-nos uma brisa fria e úmida, nós estávamos aquecidos.

Vinha-nos uma brisa fria e seca, chegava a tarde, passageira.

O pôr do sol nos rasgou ao meio, não pude mais sentir o pulsar do seu coração e os nossos batimentos perderam o ritmo sicrônico, a coragem que me passava antes eu perdi, passei então a usar uma sineta pra marcar o tempo. Nossas mãos seguraram despreendidamente o vento, os seus olhos azuis se misturaram ao amarelo fosco do sol e viraram o verde dos meus olhos. Eu fiquei com todo o meu medo só pra mim , e minha memória repulsa, acho que foi a única vez que eu esperei pela manhã.
Como era tudo muito siames, um de nós pode ter tido um termino de vida, eu só espero que não seja ela, é só isso que me bastaria.

O vazio é vazio pelo lado de fora



Quatro paredes, quatro cantos, só vejo a porta

Tenho tentado fugir do vazio
Por dentro me tranquei, num quartinho velho e empoeirado

Tenho medo da saída, mal espero então que o tempo me leve
enquanto isso, eu pelo menos fico aqui

com o eco da minha tosse.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Doce



Na véspera eu me declarei e fui apenas um ex-adorado
Eu me odiaria o resto dos dias sem me delatar
Acabei por odiar o ódio que surgiu do nada
Tentei então não ter rancor, não sei si consegui
As noites foram sem lua pra mim
e a única coisa que me prendia no chão eram os pés
Tentei enxergar a sua felicidade,
pra ver si me feria mais um pouco, isso eu consegui

Eu vi a sua felicidade transposta e maligna pra mim
Você cortou a minha garganta choca
e arrancou-me os olhos fora

Eu rolei no chão feito porco de ceva
enquanto tentava beber dos seus olhos
apenas lágrimas que fossem salgadas

Então eu senti o meu coração ser arrancado
frito, torrado e moído
para ser misturado no meio da borra de café

e eu só preferia ter te conhecido em outra época,
em outra vida, onde eu não fosse eu.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Tripudiado



O passsado está preso
preso pra sempre
aí está a simplicidade

Pro meu amor nunca tive poesia
e nunca irei de ter,
e assim como eu não tenho prosa,
não tenho visão

Arraquei-me os pedaços

Agora o silêncio dos gestos e dos sentimentos
traz a inquietude, e a inquietude
não passa de algo quieto.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Um pouco disso



Saudade perfeita ficou essa, cheia de imperfeições,
cheia de intenções, de desejos
cheia de ironia, cheia de amor
de ódio, dor e tédio

Cheia de respirações, de sorrisos
inspirações, cheia de distância
cheia de palavras ao vento

recheada torta
feita com sabor

torta de cereja com framboesa
maçã, pêra e jiló
jurubeba e chantilly

Sem ser cozida
ficou perfeita crua
e eu a engoli.

Próximo a ferrovia




Quebrei-me
Tenho em mim a meia-noite
e não saio disso
sou um relógio cuco
cego e louco pela escuridão, vagando
longe de um prego na parede
dentro de uma caixa velha de sapatos,
sapatos cujo os cadarços são de sacola
trançados por um menino
um menino que não sente a queima

Mas sente a teima, da maria fumaça ao maquinista
Queima, torra, tosta, distancia
chega a outros rumos

A menos de dois palmos a mim.