Muvuca, calor infernal. Um copo
de café voa pela janela.
- Caralho, quase caiu lá dentro...
O maluco ri enquanto o carro vermelho segue a viagem.
- É, você ia vê era se esse copo
pegasse em mim.
Resmunga um cara ao lado.
- O quê?
- Cê ia vê só era se esse copo pega em mim.
- Ah é?
- É.
- Ah é...
Quem tá em volta já dá uma olhada,
mas a viagem segue costumeira.
- E aí truta, pode vir resolver aquele negócio
aqui? Ahn? É sério. Tô falando ué...
Pode vir que a gente acerta agora.
Daí um cara com camiseta laranja acena
lá da frente.
- E aí, maluco. Já vou...
- Beleza.
A chamada é encerrada. Bocas balbuciam algo incompreensível.
- Que foi, achou ruim o que eu falei?
Quase derramou a porra do café aqui em mim. Quer resolver a gente resolve, só descer desse ônibus. Vem, vamo descer.
-Qual é maluco?
-Qual é o quê?
-Qual é maluco?! Ficou doido!
Vem falando assim não rapá!
- Achou o quê?! Vem falando um
monte de porcaria zum-zum-zum me intimidando aqui
no meio de todo mundo e quer ficar numa boa!
E daí mais uns quatro surgiram
e começaram a cobrir o resmungão de porrada.
- Ai que merda! Motorista, para
essa porra de ônibus! Abre essa porta pelo
amor de Deus! Para, para!
Gritos mais gritos. Um monte de gente passa pro fundão.
Outros tentam apartar a briga.
- Licença aí, licença aí...
Mais um entra no lance, segurando na barra
de ferro e chutando por cima.
- Achou o quê?
Se eu tivesse com uma faca na mão já
tinha te furado seu mané.
- Fica na sua. Vai entrar na briga dos outros é?
-Esse filha da puta só porque veio do Maranhão!
O resmungão - de quem a voz ficou totalmente abafada ali-
continuou levando chute e soco
enquanto pedia, quase que fervorosamente, por calma.
Foi quando o motorista brecou o ônibus e as pessoas todo aquele tumulto espremido conseguiu anestesiar o ânimo da surra.
- Porra motora, põe essa bosta
pra andar! Anda logo com isso aí!
Segue viagem! Nao aconteceu nada.
E a viagem seguiu, seguiu,
até uma barreira policial
depois da baixada.
- Esse aí é a vítima, seu polícia!
Quem teve culpa foi aquele! Aquele!
Isso, quem começou tudo foi esse!
O outro, o outro também! Esse aí
de camiseta laranja! O de mochila também! Aquele outro, do canto!
A caguetagem rolou solta...
e logo em seguida a viagem seguiu.
Por fim por mais que eu me pergunte
de quem é a culpa, quem ou o quê realmente começou com as agressões
por mais que eu procure entender o ocorrido
e ainda tire uma conclusão...
Qualquer resposta que pudesse existir ali
foi alterada minuciosamente
enquanto os passageiros como que de volta a um paraíso
acomodados em seus lugares
assistiam pela janela
toda aquela turma entrar em cana.
Ivan Silva, Fevereiro de 2015
sábado, 14 de novembro de 2015
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
JANELA ABERTA
por Marielle Sant'Ana
Estavam ainda frescas as tintas na parede do universo. Foi,
naquele instante, que nasceu uma estrela de brilho milenar. Aquecendo mundos
frios e distantes, esquecendo o próprio medo do escuro. Queimou-se até o último
suspiro. Ficou, naquele espaço, uma grande massa branca de ausência escrita. Abriu-se,
assim, uma janela para outro plano.
//
Para acompanhar
http://academiadeneuronios.blogspot.com.br/
//
Para acompanhar
http://academiadeneuronios.blogspot.com.br/
Assinar:
Postagens (Atom)