um homem do passado no dia de hoje
Uma tristeza tão longínqua respira arcada
em minhas janelas humanas
Na divisa da tarde ruiva com a noite relva,
no pêlo de um lobo, pantera, mocho e corvo
Trago o fígado da tarde-noite
para ser tratado pela água dos meus olhos
"O rio de Piracicaba vai jogar ‘almas’ pra fora"
Delírios de um ano inteiro
para um vivente dos temporais inusitados
Gostaria de saber escrever bem melhor
Gostaria de anoitecer agora, agora que ela canta
Primeira luz trazida
pelas lontras das chuvas eternas
Resta-me ser um único hemisfério
Pelo azul eu sou o meridional
Pelo canto do uirapuru esqueço
tudo o que disse anteriormente
e me oculto na floresta
Através dos vãos das folhas pardas
avisto luas-planetas- astros-estranhos
Construo poemas gigantes com os pés
Fôlego, é o que mais tenho
Meu fôlego de flores cobre todo o Brasil
nas penas de mil bandos de papagaios,
araras e bicos-de-lacre
Lágrimas de pedra precipitam-se
das dezenas de ossos que tenho:
olhos nos ossos,
nas unhas e nos cabelos do sexo
Peruca das árvores cobertas do orvalho
Antônio Eduardo, pai e mãe de todos os cachorros
Cipó-chumbo brotando dos botões do micro-systen
Nos resta um contrabaixo acústico cosendo
a fartura rítimica das últimas milhares de semanas
As bocas de mil Budas se abrem,
escorrem estrelas e o que não sei definir
Pássaros do breu, filhos de Allen Ginsberg
e Florbela Espanca
Minhas vistas violetas amam a gelatina
dos versos clitóris de Ana Cristina Cesar
A luminosidade da minha poesia
é um antídoto ao avanço neo-conservador
A luminosidade da tua poesia é um antídoto
ao avanço neo-conservador
Chamar Allen Ginsberg de senhor é sacanagem
A boa música é negada às pessoas
O Brasil “exporta” os seus melhores talentos
e os nega para o seu próprio povo
E nos impõe uma ditadura mental
Ninguém conseguirá deter
o grande renascimento da poesia
Ninguém, nenhum demônio careta
conseguirá deter o renascimento
do verdadeiro espírito humano
Que se dane que os "Marrecos da latrina"
venderam dois milhões de cópias,
o Brasil tem 150 milhões de habitantes,
não somos obrigados a engolir
esse e outros lixos oportunistas
Mediocridade se opondo à eternidade
Se esses aproveitadores
olharem para o sol (interno)
conhecerão a cegueira de suas pobrezas
E quem é que precisa de lixo?
Determino o renascimento do homem total
Homem, homem, nem um pouco Deus e sim homem,
profundamente integrado
ao movimento do planeta,
a partir do movimento de sua comunidade,
das pessoas que ali vivem
"É chegada a hora de reeducação de alguém,
do pai, do filho, do espírito santo, amém!"
Aquele que luta apenas
em prol de seu próprio benefício
está terrivelmente errado,
esse não é o movimento do universo,
essa não é a corrente do grande oceano vivo
Você, que se calou por pura conveniência,
deveria cortar literalmente a língua
e jogar aos porcos
Dinheiro, poder, posição, jogos de interesses:
que pobreza!
Os homens esqueceram que são pássaros
Tire seu velho sapato
antes que seja tarde
e pise o ventre de Mãe Terra
Dancemos voltados para a África,
para a Índia, para a Serra da Mantiqueira,
para extremo sul dos Andes
Rebolemos recitando os versos
de todos os poetas brasileiros
Nordeste
Sul
Centro-Oeste
Norte
Sudeste
Ali está a estrela Dalva
e as estrelas das constelações
Ursa Maior e Ursa Menor
Que tal um "Frevo rasgado"?
"OLHE BEM NOS MEUS OLHOS/OLHE BEM PARA VOCÊ/
O FATO É QUE/ A GENTE PERDEU TODA AQUELA MAGIA (...)"
(Oswaldo Montenegro)
25 de dezembro de 1995
Parque Novo Horizonte-São José dos Campos-SP
(edu planchêz)
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